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‘Os que acharem estranho vão tolerar. Já está bom’, diz Fernanda sobre papel gay em ‘Babilônia’ 

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Aos 85 anos e após diversos encontros nos palcos da vida, Fernanda Montenegro e Nathália Timberg vivem o casal Teresa e Estela em 'Babilônia': "A gente se toca em cena. Mas não há, obviamente, o erotismo didatizado de que  a televisão vem abusando ultimamente", anota a atriz (Raphael Dias/Divulgação)

Aos 85 anos e após inúmeros encontros nos palcos da vida, Fernanda Montenegro e Nathália Timberg vivem o casal Teresa e Estela em ‘Babilônia': “A gente se toca em cena. Mas não há, obviamente, o erotismo didatizado do qual a televisão vem abusando ultimamente”, anota a atriz (Raphael Dias/Divulgação)

“A sociedade às vezes tenta mudar, esconder, pessoas como eu. Não conseguem, não vão conseguir. Tenho certeza que pessoas como a Estela e como eu ainda vão mudar a sociedade”, diz Teresa, personagem de Fernanda Montenegro logo no começo de Babilônia, ainda em 2005. A novela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga substituirá Império a partir de 16 de março na faixa das 9 da Globo. Por “como eu”, entenda-se homossexual e protagonista da trama mais surpreendente a novela: advogada renomada e pioneira na militância pelos direitos civis, Teresa mantém um relacionamento de mais de 30 anos com Estela, interpretada por Nathália Timberg.

Quem teve a ideia de juntar duas das mais renomadas atrizes brasileiras como um casal foi Gilberto Braga. “Ele nos conhece há mais de 50 anos, nos viu inúmeras vezes quando era crítico de teatro”, lembra Fernanda em conversa com QUANTO DRAMA!, durante a coletiva que apresentou a novela à imprensa na última quarta (25), no Projac. “Ele nos vê não como duas atrizes da mesma geração, mas que são, vocacionalmente, do palco. Temos trajetórias parecidas, as mesmas referências. Não é, portanto, um encontro de passado, mas de sobrevivência”, observa Fernanda sobre convivência com a colega – as duas têm 85 anos.

Estela (Nathália Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) caminham pela orla de mãos dadas em cena de 'Babilônia': felizes e bem-resolvidas há mais de 30 anos (Reprodução)

Estela (Nathália Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) caminham pela orla de mãos dadas em cena de ‘Babilônia': felizes e bem-resolvidas há mais de 30 anos (Reprodução)

Estela é mãe de Beatriz, a grande vilã vivida por Glória Pires, e criou Rafael (Chay Suede), neto deixado por uma outra filha, já morta. O rapaz chama Teresa e Estela de mãe. É uma família feliz, embora a bondosa Estela não faça ideia de que Beatriz é dissimulada e, pior, assassina. “É uma bandida e a minha personagem desconfia bastante disso. Mas vai tentando escamotear os defeitos da filha da companheira”, adianta. “A relação delas é de muito cuidado, uma tentando salvar a outra dos males da vida.”

Para Fernanda, um casal de mulheres da terceira idade é um caminho natural escolhido pelos autores. “Neste tema dos duplos já foi feito de tudo na ficção – teve a descoberta da homossexualidade, a dificuldade de assumir, homem com homem, mulher com mulher, expectativa sobre beijo, sobre beijo de língua, essas coisas todas. Este é um novo caminho e mais: uma demonstração de que esses pares existem na sociedade. Apenas isso”, reflete. “O que eu vejo é que os héteros se separam cada vez mais e os gays só pensam em se casar”, diverte-se a grande dama da dramaturgia. “Para eles, é um ato de afeto e um ato político.”

Numa das cenas exibidas aos jornalistas, Teresa e Estela caminham pelo calçadão de Ipanema de mãos dadas – é uma relação feliz, bem-resolvida, sem rompantes. “As cenas não são, obviamente, de erotismo, muito menos daquele erotismo didatizado do qual a televisão vem até abusando ultimamente”, anotou ela. “Mas a gente se toca, há carinho ali.”

Segura com o papel e com a história que pretende contar, Fernanda não alimenta ilusões sobre a reação dos espectadores mais conservadores. Mas, do alto dos mais de 60 anos de carreira, não se deixa abalar. “Todo mundo já sabe que os personagens homossexuais fazem parte da sociedade e devem, por isso, estar presentes em todas as manifestações artísticas. É claro que há os mais conservadores, os religiosos, os homofóbicos, todos os que são contra. Mas os que acharem estranho vão tolerar. Já está bom assim.”

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